Aprendimentos Clínicos
interlocuções psicanalíticas
A aliança entre analista e escritor é uma indicação desde Freud. Neste mesmo sentido, há uma reiteração lacaniana que o artista não só precede o analista, como lhe abre caminhos. Em concordância com tais autores, tomamos aqui um neologismo instigante de uma poesia de Manoel de Barros: APRENDIMENTOS, e partilhamos algumas ressonâncias.
É curioso pensar em como o poeta não se serviu do termo aprendizagem, o qual nos remete a um conhecimento racional, adquirido por uma via direta. Certamente, isto não parece à toa, já que o próprio Manoel costumava dizer que poesia não gosta de ser explicada e que requer do poeta (diríamos que dos seus leitores também) um compromisso com a invenção, bem como, com uma abertura à descoberta.
Quais os efeitos possíveis quando nos apoderamos das questões que cotidianamente a clínica psicanalítica nos coloca? Quando tomamos as dificuldades deste fazer como causa de trabalho e não como obstáculo, produziríamos ou extrairíamos alguns “APRENDIMENTOS”?
Manoel de Barros nos inspira e metaforicamente nos deixa pistas de um caminho para tal trabalho, e Lacan, por outro lado, dá uma contribuição valiosa ao sustentar em seu ensino uma distinção entre SABER e CONHECIMENTO. Aos analistas, deve interessar um saber que não está dado previamente e que não poderia ser comunicado por uma via explicativa, pedagógica. Em psicanálise, o trabalho se orienta, fundamentalmente, pelo saber Inconsciente, o qual inclui os tropeços da fala, os equívocos, os atos (que são falhos), o modo ímpar que um sujeito recorta a realidade e, a partir disto, as saídas igualmente singulares que cada um pode encontrar para lidar com o seu próprio sofrimento. É justo por tomar este acolhimento da diferença, do que é radicalmente ímpar na clínica como ponto de partida que o analista pode, então, interrogar e repensar a teoria psicanalítica.
Como transmitir algo desta experiência tão singular? Como os analistas podem criar saídas para os problemas clínicos que se apresentam? De que modo podemos nos servir de trocas com outros campos de saber para construir algumas outras respostas? A proposta deste site é tomar tais questões como eixo de um trabalho coletivo fruto das questões colocadas a cada um pelo cotidiano da sua clínica.
A escrita aqui será tomada como um lugar privilegiado para o trabalho de transmissão e de continuidade da formação de analista. Sustenta-se uma aposta de transmissibilidade que preserva e inclui o saber também do lado de quem o busca, de quem o lê, e por isso mesmo, é que se torna possível uma constante construção. Enquanto analistas, estamos advertidos que transmitir em psicanálise só se torna possível pela via de uma aposta. Eis a nossa aqui colocada.